Por Régis Tractenberg
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Obs.: esse texto é parte do curso Teoria e Prática do Design Instrucional, pelo qual já passaram mais de 4.200 profissionais da educação no Brasil. Também disponível em formato PDF.
1. O que é o design instrucional?
- Criar processos e materiais didáticos eficazes, isto é, que atinjam seus objetivos pedagógicos.
- Estes materiais e processos devem ser eficientes, consumindo o menor tempo possível.
- Devem ser agradáveis para os aprendizes.
- Precisam ser viáveis em seu custo-benefício.
E segundo Smith e Ragan (1999), as vantagens do DI incluem:
- Situar o foco do processo de ensino-aprendizagem no aluno.
- Integrar o trabalho de designers instrucionais, designers gráficos, instrutores, gerentes e outros profissionais por meio de um processo de trabalho sistemático.
- Facilitar o desenvolvimento de soluções alternativas às práticas usuais em um determinado campo de ensino.
- Levar à convergência dos objetivos, atividades e avaliações.
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1.1 Aprendizagem, educação, instrução e treinamento
. | Existem objetivos de aprendizagem específicos? | . |
---|---|---|
Existem procedimentos e materiais para favorecer a aprendizagem? | Sim | Não |
Sim | Instrução | Visitas a museus, teatro, biblioteca etc. |
Não | Projetos, estágios, pesquisas | Aprendizagem incidental |
Quadro 1. Uma definição de instrução. Romiszowski, 1999.
1.2 Níveis do planejamento educacional
Nível de planejamento | Exemplos |
---|---|
Social | Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira; Parâmetros Curriculares Nacionais. |
Organizacional | Filosofia educacional de base construtivista, adotada no Colégio X. |
Curricular | Currículo do Colégio X para os alunos do ensino médio / currículo de Física para o ensino médio. |
Instrucional | Livro didático ou aula de Física em que o professor leva seus aprendizes a inferir as leis da termodinâmica. |
2. Etapas do Design Instrucional
O trabalho de um designer instrucional consiste em responder a três grandes perguntas:
- Aonde vamos? (os objetivos da instrução)
- Como chegaremos lá? (as estratégias e as mídias instrucionais)
- Como saberemos quando chegarmos? (a avaliação)
2.1 Analisar
O designer instrucional precisa compreender os problemas com que se depara e diferenciar os aspectos organizacionais e administrativos dos aspectos instrucionais.
Um exemplo
O Colégio X caiu 23 posições na classificação geral do vestibular e a diretoria deseja melhorar esta situação. Após cuidadoso diagnóstico, um consultor experiente em DI identificou o seguinte:
Problemas organizacionais
Problemas instrucionais
a) após a saída de dois bons professores de Matemática e Física a qualidade do ensino nessas duas disciplinas se tornou deficiente. Análise Combinatória e Termodinâmica foram os assuntos que revelaram maior queda de desempenho perante as provas de vestibulares anteriores;
b) os alunos também mostram pouco interesse nos estudos, pois não compreendem como tudo poderá lhes ser útil algum dia.
Considere o exemplo acima. Adiantaria mudar apenas os livros didáticos ou contratar novos professores? Provavelmente não. Uma solução com chances de sucesso precisaria atender a vários elementos: um designer instrucional poderia propor mudanças na didática de Matemática e Física; um psicólogo poderia orientar melhor os alunos, permitindo-lhes dar mais sentido aos estudos; finalmente a escola poderia estudar formas de aumentar os salários e encaminhar as propostas de melhoria no currículo para atender, assim, às expectativas de seus professores.
Mesmo quando existe de fato um problema que pode ser atendido por meio de instrução, é preciso que esta seja bem planejada. Outro erro comum é a implementação de medidas desproporcionais ou inadequadas ao problema. Por exemplo: um curso online com 200 telas animadas, que só podem ser acessadas diante do computador, pode ser uma solução pior que um guia impresso de consulta rápida acessível durante o trabalho.
Por esse motivo é necessário analisar fatores como o contexto, as características dos aprendizes e os objetivos de aprendizagem, no intuito de fundamentar decisões a respeito de uma solução viável e com boas chances de sucesso.
Uma vez definidos os problemas organizacionais e identificados os problemas instrucionais procedemos com:
A análise do contexto de aprendizagem que inclui fatores como a infraestrutura tecnológica, verbas disponíveis, elementos restritivos, prazos, políticas organizacionais, cultura local etc.;
A análise do público-alvo que verifica as características cognitivas dos aprendizes, seu conhecimento prévio e competências relacionadas ao assunto em questão, características sociais e motivacionais etc.;
A análise dos objetivos de aprendizagem que decompõe objetivos gerais em objetivos específicos e subobjetivos, para permitir que sejam identificados os tipos de aprendizagem necessários para se criar uma solução instrucional completa sem lacunas nem excessos no conteúdo.
São perguntas-chave do DI na fase de análise:
- Levantamento de necessidades: qual é o problema? Que tipos de habilidades e conhecimentos se pretende ensinar/promover
- Análise do contexto: quais as condições?
- Análise do público-alvo: quem são os aprendizes?
- Análise dos objetivos: o que os aprendizes devem se tornar capazes de fazer?
2.2 Planejar
Na etapa de planejamento, determinam-se as estratégias que serão aplicadas para atender ao problema instrucional, a fim de estimular as aprendizagens identificadas como necessárias.
Nessa fase selecionam-se os mediadores (professores, tutores etc.), as mídias e as tecnologias que melhor atendem à instrução em seu contexto.
No planejamento, selecionam-se ainda os métodos de ensino/aprendizagem como: presencial ou a distância, supletivo (dar informação) ou generativo (propor desafios), em grupos ou individualizado, estratégias motivacionais etc. O conteúdo é sequenciado em disciplinas, unidades, lições e atividades.
As fases de análise e planejamento da solução costumam ser sistematizadas em um documento chamado “projeto instrucional”.
Além dos aspectos educacionais, a criação de materiais didáticos ou a implementação de programas de educação ou treinamento significa bastante trabalho. Iniciativas de grande envergadura exigem projetos gerenciais que tratam de questões como o cronograma de tarefas a cumprir, a composição da equipe de desenvolvimento, orçamento, riscos etc. Com frequência o designer instrucional desempenha o papel de gerente de projeto devido à sua formação abrangente e visão de conjunto sobre o propósito geral da instrução.
São perguntas-chave do DI nesta fase:
- Quais são as estratégias mais adequadas para promover os diferentes tipos de aprendizagem?
- Como motivar os aprendizes?
- Quais são as mídias e as metodologias mais adequadas?
- Devem ser usadas abordagens generativas e/ou supletivas?
- Como deve ser sequenciada a instrução?
- Como os aprendizes serão agrupados?
2.3 Desenvolver
a fase de desenvolvimento, os materiais instrucionais e as atividades de aprendizagem são criados. Conforme o caso, será necessário capacitar professores, comprar equipamentos ou recursos didáticos que existam no mercado.
É comum fazer protótipos ou rascunhos dos produtos para fins de testes. Diversos modelos de DI enfatizam a necessidade da “avaliação formativa”, isto é, a avaliação dos materiais e dos métodos instrucionais ao longo de todas as etapas do desenvolvimento. Existem quatro métodos básicos para a avaliação formativa: a revisão do planejamento, a validação pelos futuros alunos, a validação por especialistas e a avaliação contínua durante a implementação (Smith e Ragan, 1999).
São perguntas-chave do DI nesta fase:
- Os produtos em desenvolvimento estão de acordo com o plano instrucional
- Como podem ser melhorados antes de sua implementação?
2.4 Implementar
É pergunta-chave do DI nesta fase:
- A instrução está sendo implementada corretamente?
2.5 Avaliar
Por fim, os resultados da instrução são analisados em sua efetividade em face dos objetivos propostos inicialmente. Isso se chama “avaliação somativa”. Com tais resultados, os processos e os materiais didáticos podem ser revisados e melhorados.
São perguntas-chave do DI nesta fase:
- Qual a efetividade dos resultados de aprendizagem
- Como melhorar processos e materiais didáticos para as próximas implementações?
Referências
- Gellevij. M. (2001). Disciplina ´Principles of learning and instructional design´ Universidade de Twente, (não publicado).
- Romiszowski, A.J. (1999). Designing Instructional Systems: Decision making in course planning and curriculum design. London: Kogan Page.
- Smith, P.L., & Ragan, T.J. (1999). Instructional design. (2nd ed.). Toronto: John Wiley & Sons.
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